
Evgeny Yudin
Autor
Qualificação: International Health Access Consultant
Cargo: Founder of Pillintrip.com
Empresa: Pillintrip.com – International Health and Travel

Sarah estava curtindo a aposentadoria dos sonhos na Costa Rica quando, em uma aula de ioga pela manhã, o lado esquerdo do rosto dela de repente ficou paralisado. Entrando em pânico, percebeu uma verdade aterrorizante: não lembrava a palavra em espanhol para “derrame”, seu seguro viagem não cobria atendimento especializado e não fazia ideia de quais medicamentos poderiam salvar sua vida nas próximas horas cruciais.

Para turistas e expatriados, sofrer um AVC em outro país pode rapidamente se tornar um desastre. Barreiras linguísticas, sistemas de saúde desconhecidos e acesso restrito a medicamentos muitas vezes decidem entre a recuperação e a incapacidade permanente.
A resposta é simples: saiba quais remédios para derrame estão disponíveis mundialmente e como consegui-los. Este guia traz informações essenciais sobre o tratamento do AVC isquêmico e hemorrágico que podem salvar vidas no exterior.
Por que seu seguro viagem não vai te salvar de um AVC no exterior
O seguro viagem raramente conta toda a história: lacunas na cobertura podem deixar você desprotegido em emergências médicas graves. Um derrame no exterior não é uma questão burocrática — é uma corrida contra o tempo. Seja numa cidadezinha na Tailândia ou no centro de Tóquio, ter acesso rápido a trombolíticos é muito mais importante do que apresentar o cartão do seguro.
Muitos expatriados só descobrem tarde demais que apólices “completas” excluem doenças pré-existentes, certos medicamentos ou exigem autorizações especiais para anticoagulantes — atrasos que podem ser fatais. A única proteção real é conhecer essas lacunas com antecedência e se planejar.
Assim como saber reconhecer sintomas de infarto quando viaja, identificar medicamentos de AVC e saber se estão disponíveis no país pode significar a diferença entre a vida e a incapacidade ao enfrentar emergências longe de casa.
O checklist de 10 remédios que podem salvar sua vida fora do Brasil
Salva-vidas em emergências: quando minutos fazem a diferença
1. Alteplase (Actilyse) – O padrão ouro global

O que faz: Este ativador tecidual do plasminogênio dissolve coágulos responsáveis pelo AVC isquêmico. O tratamento com alteplase ainda é o padrão mundial para trombólise, oferecendo maior chance de recuperação neurológica se usado na janela crítica de 4,5 horas.
Realidade internacional: Disponível na maioria dos países desenvolvidos, mas protocolos podem variar bastante. No Japão é chamado de “rtPA”; na Europa, cada hospital adota um esquema de dose próprio. Verifique a disponibilidade da alteplase no destino antes de viajar.
Dica para viajantes: Aprenda a pronunciar “al-te-pla-se”. Escreva no idioma local. Não espere que a equipe médica sugira automaticamente este tratamento — peça explicitamente por “trombólise com ativador tecidual do plasminogênio”.
2. Tenecteplase (Metalyse) – A nova revolução

Revolução no tratamento: A tenecteplase ganhou aprovação do FDA em março de 2025, mudando o cenário do AVC internacionalmente. Com injeção única, é mais fácil de aplicar que a alteplase tradicional e apresenta resultados melhores no mundo real.
Disponibilidade global: Aprovação na Europa desde janeiro de 2024, sob o nome “Metalyse”, e rápida adoção em diversos países da Ásia. Acompanhe a disponibilidade da tenecteplase no seu destino.
Por que faz diferença: Aplicação prática viabiliza trombólise em hospitais de pequeno porte, algo antes restrito a grandes centros. Isso melhora suas chances de receber tratamento adequado mesmo em locais remotos.
3. Ácido acetilsalicílico (AAS/Aspirina) – Defesa de emergência universal

Indispensável para qualquer viajante: A aspirina previne a expansão do coágulo por ação antiplaquetária — faça parte do seu kit básico de emergência no exterior.
Protocolo imediato: Na suspeita de AVC (caso você não faça uso de anticoagulantes), tome 325mg de aspirina imediatamente. Essa atitude simples pode evitar complicações até a chegada do socorro. Veja equivalentes da aspirina ao redor do mundo.
Considerações locais: Em todo o Brasil e na maioria dos países, a aspirina é vendida sem receita. Doses recomendadas variam: em alguns países, 100mg, e em situações agudas, até 325mg. Consulte sempre as recomendações locais do seu destino.
Anticoagulantes e imigração: o pesadelo do viajante
Levar anticoagulantes para o controle do AVC durante viagens pode gerar situações burocráticas complicadas. Conhecer os desafios evita surpresas desagradáveis fora do Brasil.
4. Clopidogrel (Plavix) – O campeão da prevenção

Mecanismo: Este inibidor do receptor P2Y12 impede a agregação das plaquetas, essencial na prevenção do AVC recorrente. O clopidogrel (Plavix) é fundamental em pacientes que não toleram aspirina ou precisam de dupla terapia antiplaquetária.
Regras para viagem: Em regra, aceito na maioria dos países, mas leve sempre a embalagem original com a Denominação Comum Internacional (DCI) e prescrição médica, em especial para longas estadias. Confira as normas locais sobre o clopidogrel.
Cuidado com preços: O valor do medicamento pode variar muito de país para país. Genéricos costumam ser muito mais baratos que o Plavix de marca. Informe-se previamente para evitar surpresas.
5. Apixabana (Eliquis) – O anticoagulante moderno

Por que importa: A apixabana (Eliquis) pertence aos anticoagulantes orais diretos (DOACs), especialmente eficaz na prevenção de AVC relacionado à fibrilação atrial. Ao contrário do uso comum da varfarina no Brasil, esse medicamento não exige monitoramento frequente do sangue.
Vantagem para o viajante: Sem necessidade de exames constantes do sangue, a apixabana facilita viagens longas. No entanto, é caro em muitos destinos e pode exigir autorização especial. Confira preços e disponibilidade antes de viajar.
Emergências: Possui antídoto específico para casos de sangramento, mas nem todos os hospitais têm acesso. Carregue um cartão médico informando seus remédios em português e, se possível, na língua local.
6. Rivaroxabana (Xarelto) – Conveniência em dose única diária

Facilidade: Rivaroxabana (Xarelto) permite dose única diária e é muito utilizada entre brasileiros. Outro inibidor do fator Xa, oferece benefícios semelhantes à apixabana, mas com flexibilidade de doses.
Considerações internacionais: Disponível em muitos países, mas o esquema posológico pode mudar; em alguns lugares são recomendadas duas doses diárias em certas situações. Consulte protocolos locais antes da viagem.
Atenção às interações: Pode interagir com remédios utilizados localmente em diferentes países. Tenha sempre uma lista dos seus medicamentos para apresentar em atendimento de emergência.
7. Varfarina (Marevan/Coumadin) – O clássico dos anticoagulantes

Padrão mundial: A varfarina (Marevan/Coumadin) é o anticoagulante mais usado no mundo, inclusive no Brasil, especialmente em pacientes com válvula cardíaca artificial. Em muitos países, pode ser a única opção disponível.
Desafio de viagem: Requer acompanhamento frequente de INR, que pode ser difícil de realizar em diversos lugares. Procure laboratórios nos destinos antes de viajar. Veja onde monitorar o uso de varfarina no exterior.
Interações alimentares: Os efeitos da varfarina mudam conforme a dieta, principalmente com alimentos ricos em vitamina K (comuns na culinária brasileira). Informe-se sobre os hábitos alimentares do destino para manter o tratamento equilibrado.
Medicamentos preventivos: a base para sua proteção no longo prazo
8. Atorvastatina (Lipitor/Citalor) – Guardião do colesterol

Prevenção: A atorvastatina reduz o colesterol e estabiliza placas arteriais. O tratamento preventivo com estatinas é rotina tanto no Brasil quanto no exterior após AVC, integrando o SUS e os protocolos privados brasileiros.
Vantagem: Genéricos são acessíveis e amplamente disponíveis. No exterior, pode ser vendido sem receita, mas os preços variam conforme o país. Compare preços globais para economizar em longas viagens.
Cuidado com qualidade: Fique atento a possíveis falsificações fora do Brasil. Compre apenas em farmácias reconhecidas e confirme a originalidade da embalagem.
9. Ticagrelor (Brilinta) – Elemento-chave da dupla prevenção

Proteção avançada: Ticagrelor (Brilinta) é usado junto à aspirina na dupla terapia antiplaquetária, especialmente para quem passou por AVC recente e tem risco elevado.
Desafios de horário: Exige horários bastante precisos, o que pode ser difícil em viagens com fusos diferentes. Programe alarmes e adapte o horário sempre que necessário. Veja orientações de uso no país de destino.
Acesso: Dependendo do país, pode exigir receita médica de especialista. Verifique as normas de prescrição antes de viajar.
10. Dabigatrana (Pradaxa) – Inibidor direto da trombina

Ação diferenciada: A dabigatrana (Pradaxa) inibe diretamente a trombina, sendo fundamental para quem não tolera outros anticoagulantes orais diretos.
Vantagem em segurança: Possui antídoto próprio (idarucizumabe), mas este não está disponível em todos os hospitais. Confira onde o antídoto está disponível no exterior.
Conservação: Sensível a temperatura e umidade, merece cuidado especial em viagens para regiões quentes e úmidas.
O que acontece se você não souber dizer “Alteplase” em chinês?
Barreiras linguísticas em emergências médicas podem provocar atrasos fatais que nenhum seguro cobre. Imagine sofrer um AIT em Pequim ou complicações de AVC no interior do Brasil, onde comunicar-se pode ser tão decisivo quanto o medicamento. O segredo vai além da tradução: entender como sistemas de saúde priorizam o cuidado. Pedir um “ativador tecidual do plasminogênio” ou citar “janela de 4,5 horas” mostra a urgência à equipe local. Pessoas prevenidas devem levar cartões médicos com frases-chave do tipo “Preciso de protocolo de emergência para AVC”, “Verifique contraindicações de trombolíticos” e “Chame a neurologia para avaliação urgente de AVC isquêmico”, no idioma local. Entender diferenças culturais em decisões médicas — se consultam família ou priorizam a rapidez — também faz parte de uma boa preparação.
Relatos reais: “Quase morri por não saber disso”
A história de Marcus — O alerta do militar:
Marcus, ex-paraquedista de 33 anos residente na Alemanha, contou sua experiência assustadora: “Sofri uma dissecção da artéria cervical pulando de avião no exército. Fisicamente estou melhorando, mas o cansaço, a ansiedade e o estresse são constantes”.
O AVC cerebelar resultou em dormência, surdez e zumbido do lado direito. O que o salvou não foi o treinamento militar, mas insistir no diagnóstico correto e acessar reabilitação. “Todos os dias é uma batalha nova”, conta. Sua vivência mostra que a reabilitação e o manejo medicamentoso exigem comprometimento a longo prazo.
Marcus passou 2,5 semanas na UTI e precisou de três meses longe do trabalho, mas conseguiu recuperar 90% das funções com tratamento e fisioterapia. O acesso imediato a medicação foi decisivo para evitar incapacidade permanente.
O caso de Sarah — Quando o “AVC pequeno” não é nada pequeno:
Uma mulher de 20 anos relatou seus “pequenos” AVCs lacunares que “passaram em menos de um minuto”. No pronto atendimento foi subestimada e precisou insistir por exames adequados.
“Fiquei paralisada do lado direito por alguns segundos e depois o movimento voltou. Não conseguia levantar o braço nem mover o rosto”, relata. Apesar da resolução rápida, persistem sintomas: tontura, confusão, dores musculares, formigamento e rigidez.
A experiência mostra que mesmo quadros leves exigem tratamento rigoroso e reabilitação cognitiva. A descoberta e o reparo de um FOP (forame oval patente) evitaram recidivas. Este exemplo enfatiza como insistir no cuidado integral é fundamental mesmo após um “pequeno” AVC.
Esses relatos revelam que conhecimento e defesa dos próprios direitos muitas vezes pesam tanto quanto a gravidade inicial. Diagnóstico apropriado, fonoaudiologia, fisioterapia e monitoramento dos remédios são centrais para a recuperação neurológica plena.
Custos ocultos: quando medicamentos para o AVC detonam seu orçamento de viagem

O custo real de um AVC fora do Brasil não se resume à conta do hospital, mas compreende remédios de uso prolongado, exames e complicações. Um mês de anticoagulantes custa US$ 300–500 nos EUA, € 50–100 na Europa, R$ 100–200 em alguns países da Ásia, mas qualidade, receitas e seguro podem complicar essas economias.
Muitos planos excluem doenças pré-existentes ou só dão acesso a certas farmácias, restringindo o tratamento. O melhor é pesquisar preços e acesso antes de viajar — em países com bons genéricos, o custo cai enormemente.
Colocando em prática: sua checklist de preparação para o AVC
Conhecer esses medicamentos é o primeiro passo. De fato, estar preparado significa antecipar questões médicas, logísticas e de comunicação em viagem.
Monte cartões de emergência traduzidos para o idioma do local com lista de remédios, contatos e histórico relevante. Tenha cópias físicas e digitais guardadas em locais acessíveis.
Pesquise sobre o sistema de saúde, protocolos de emergência e disponibilidade de tratamentos no destino, especialmente para doentes crônicos. No Brasil, a atenção básica e o suporte da família são pilares, pratique isso em outros lugares.
Considere serviços internacionais de assistência médica para consulta de emergência, acesso a remédios ou repatriação em caso grave. Eles facilitam o atendimento médico e a comunicação em outro idioma.
Revise seus medicamentos com seu médico pensando nas particularidades da viagem: possíveis interações, protocolos de emergência e prescrições válidas fora do Brasil.
Aviso médico: Este conteúdo é apenas informativo e não substitui consulta médica. Sintomas de AVC, dúvidas sobre medicamentos e tratamentos devem ser discutidos com profissionais de confiança. Emergências exigem busca de assistência imediata. O texto segue diretrizes atuais mas pode não abranger condições individuais ou especificidades de cada país.
Fontes e referências:
- FDA Novel Drug Approvals 2024
- American Stroke Association Treatment Guidelines
- CDC International Travel Health Information
- WHO Essential Medicines List 2023
- JAMA Neurology Research on Tenecteplase vs Alteplase
- 2024 AHA/ASA Guideline for Primary Prevention of Stroke
- World Stroke Organization: Alteplase on WHO Essential Medicines List

